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Já não há amores assim...

Domingo, 04.05.08
As orações de Soror Maria da Pureza (XV)
    
... “«- Sim, as tuas palavras só eu as posso entender, só podem ungir os meus ouvidos, óleo santo que os meus ouvidos reconhecem como um orvalho do céu. Amo-te e adoro-te. Quando nasci, também já nasceste comigo; foram os teus divinos passos, que ouvi quando fui ao teu encontro, que traçaram no chão este caminho de flores.
   
Se me encontraste foi porque eu te procurava, porque os meus braços em cruz se estendiam – para a tua presença. Já estava contigo em espírito, espírito eleito, essência perfeita e invisível que se fez carne para me salvar.»
As monjas decoravam as palavras que andavam já de boca em boca, que as mestras ensinavam às educandas, que eram rezadas por todas, aos pés dos altares com o maior fervor e devoção.
«- Indigna pecadora, como foi que eu te mereci?! Indigno sacrário, onde misericordiamente deixas cair o mel das tuas palavras de amor! Toda a minha alma em preces, de joelhos, de mãos postas, não é bastante para te pagar o bem que sobre mim desce das tuas mãos abertas, a altura a que me elevas, o êxtase em que vivo a esperar-te. Bendito sejas! Por ti, deixar-me-ia cruxificar, o sangue das minhas chagas beijá-lo-ia para resgatar os meus pecados.
Não tenho medo da noite, meu Amor: a noite é que te traz no seu manto estrelado. Não me atrevo a estender para ti as minhas mãos, teria receio de me queimar no fogo abrasador do teu divino amor por mim. Tenho medo de blasfemar quando passam pelos meus lábios, como as contas de um rosário, as letras do teu nome; tenho medo de as não ungir com todo o fervor da minha devoção.»” ..                           continua
   
in “As máscaras do destino” de Florbela Espanca

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publicado por Filomena às 11:27